Capítulo: Libertação do Trabalho Enfadonho. Do livro: A luta, autor: John White. Adaptado por mim.
Muitos estudantes me procuram queixando-se de cansaço e preguiça: “simplesmente não consigo fazer atividade”. “então quando chega a época das provas, entro em pânico”.
Alguns de nos somos imaturos e reagimos ao nosso trabalho acadêmico, como fazíamos na infância, quando nos mandavam restaurar a ordem do caos de nossos quartos desarrumados. Somos crianças rebeldes que, no jargão psicológico, “carecem de estímulos ou motivação” para estudar, por que reagimos diante dos professores como reagiríamos diante de nossos pais. Ou então, por medo, nos vemos sozinhos na luta pela compreensão, não percebendo que muitos estudantes ao nosso redor estão apenas representando diversos papeis de supercapacidade acadêmica, para ocultar seus próprios temores.
Lembro-me do alívio que senti quando deixei de me preocupar com os exames. Naquele tempo estava estudando Patologia Humana. Lembro-me da mesa a qual me sentava e a visão do topo das arvores pelas janelas abertas do meu quarto. Com uma metade da mente eu lia e com a outra, preocupava-me com perguntas do tipo: será que estou realmente absorvendo esta coisa? Será que isto cairá no exame? Talvez esse texto tenha detalhe de mais. Será que não estou perdendo muito tempo? Não seria bom arranjar outro livro? Será que devo fazer anotações? Por que será que isto é tão tedioso?
De algum lugar, fluiu o pensamento: por que não ler este capítulo como se fosse para o Senhor?
Sem me preocupar com as provas? Segurei o fôlego. Parte de mim sabia que eu experimentaria um alívio e aproveitaria melhor todo o trabalho, mas a outra parte se rebelava. A sugestão parecia perigosa. Os professores não estavam interessados em consciências piedosas, mas em dados assimilados.
A luta foi rápida e eu optei pela piedade. Estava ficando doente entediado de tanto estudar em busca de notas e dominado pela ansiedade que inibia o verdadeiro estudo. Já havia assimilado muitos princípios sugeridos pelos livros do gênero “como estudar”, de modo que mudar a minha atitude já não acarretava a minha mudança de método. Mas a pressão desapareceu, quando o lema “para o Senhor” tornou-se a minha motivação. Para alegria minha, descobrir que o jugo do Senhor é suave e o seu fardo é leve, de maneira que passei a estudar com uma paz de espírito. A patologia ficou mais interessante e cheguei a me dar o luxo de ter curiosidade pelo que estava lendo. Comecei a fazer pequenas anotações sobre os capítulos que lia. O tédio se desfez e foi substituído por um sentimento de gratidão e satisfação. Tendo ou não exames eu estudava para Deus. E até voltei a jogar tênis, com um espírito despreocupado.
Já não era o responsável pela aprovação nos exames. Antes, tornei-me responsável por usar o tempo de estudo de modo agradável a Deus. Fazia as mesmas coisas, mas sentia-me livre e tirava proveito do que fazia. Certamente aprendi muito mais, embora não soubesse como isto afetaria minhas notas. Nem me importava saber. Deixara de trabalhar para obter notas, pois o fazia para Cristo.
Tive algumas recaídas. Agradar a Cristo nos estudos era como aprender novas técnicas de natação. Era preciso adquirir pratica. E assim, meus estudos nunca mais foram enfadonhos.
Quando Cristo disse que daria um fardo leve aos seus discípulos, não estava prometendo ausência de trabalho. O trabalho pesado pode ser muito cansativo, mas profundamente compensador. Em lugar algum a Bíblia nos incentiva à preguiça. Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais não {há} obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma. (Ec 9:10)
Vós, servos, obedecei a {vosso} senhor segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor e não como aos homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, {seja} livre. (Ef 6:5-8)
Vós, servos, obedecei em tudo a {vosso} senhor segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus. E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis. (Cl 3:22-24)
Mais do que eu qualquer outro homem, o cristão pode encontrar alegria no trabalho, por amor a Deus. E quanto mais ele trabalhar, mais exultará sua alma. Mesmo que seja uma porca, “aperte as porcas para Cristo e não para o supervisor”.
O que interessa a Deus é que qualquer que seja o lugar e o trabalho, você o faça sempre e unicamente para a gloria de Deus.
Deixe-me encorajá-lo a não pensar, portanto, no sucesso em primeiro lugar. Se Deus lho permitir, regozije-se e o louve. Seu alvo não é o “sucesso” tal qual o mundo ao seu redor costuma avalia, mas agradar a Cristo através de tarefas às vezes não compensadoras. O trabalho não é um degrau para “as coisas mais elevadas”; é um ato de adoração ao Salvador.
Não inveje, portanto, as pessoas que o cercam e parecem ter mais talentos. Seu dever não é ser melhor do que elas, cobiçar seus cérebros e aptidões, mas oferecer seus próprios talentos ao Senhor em adoração.
Organize o seu tempo.
A disciplina tem um valor inestimável. Muitos estudantes desperdiçam o seu tempo em intermináveis discussões a mesa da lanchonete.
Não exclua o tempo dedicado a recreação e ao convívio com os outros. Dê a si mesmo um tempo extra, no horário das refeições, para conversar com os amigos. Uma vida dedicada a Cristo não é um trabalho pesado que nunca pára. O verdadeiro desperdício de tempo está em conversas vãs, leituras escapistas, programas de televisão ou em longas reuniões. Tenhas coragem de se retirar dessas reuniões. Quando você estiver sendo hipnotizado pela TV, interrompa deliberadamente o seu transe, lave o rosto com água fria e volte aos livros ou outra atividade producente.
Ainda que você não acredite, as pessoas mais brilhantes sofrem do mesmo problema que você. Raramente sentem-se satisfeitas com o que têm e geralmente percebem pessoas que são mais brilhantes do que elas. Use seus talentos, seja eles medíocres ou não, para Deus. O fato é que não importa quanto você tem, mas como você o usa. Entregue-lhe a sua vida e, com ela, a sua inteligência e os seus talentos tais como são. Entregue-lhes a sua energia, o seu tempo e as suas forças.
Você se considera um estudante medíocre? Você é um funcionário comum? Seus talentos estão a baixo da média? Não os enterre, nem os tranque num cofre. Entregue-os ao Salvador.
Ele o chama para estudar para ele e trabalhar para ele, com todas as suas forças. Ele não está interessado no que o mundo chama de sucesso. Ele não o chamou por que você tem algum potencial superior, mas por que ele desejou partilhar da alegria dele com você. Entregue lhe tudo de boa vontade. Talvez não aconteça milagre algum, mas certamente o seu coração se alegrará, e você começará a desfrutara alegria do trabalho bem feito e escapará da escravidão do trabalho enfadonho.
É preciso ver beleza no que se faz.